segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Produção de etanol de cana-de-açúcar pode afetar ecossistemas regionais


O etanol vem sendo visto com bons olhos justamente porque, ao contrário do petróleo, cuja queima lança no ar carbono que estava “fora de circulação” há centenas de milhões de anos, suas emissões são compensadas durante o crescimento das plantações de cana-de-açúcar, que absorvem CO2 no processo de fotossíntese. Isso praticamente zera o balanço de carbono.
Como quase todo tipo de agricultura intensiva, a cultura da cana-de-açúcar exige a aplicação de fertilizantes à base de compostos com nitrogênio, como o nitrato de amônio. Porem, essa aplicação é extremamente ineficiente. Apenas 30% do nitrogênio dele são absorvidos pela cana, o restante acaba se perdendo no solo, na água e no ar.

Queimada em canavial na região de Araraquara, SP

Chuva de fertilizante sobre rios, campos e florestas distantes até mais de 300 quilômetros dos canaviais é 12 vezes mais intensa do que a natural
O nitrogênio pode ser essencial a vida, mas quando ele fica à disposição em excesso, espécies de plantas e micro-organismos que o absorvem mais rápido podem se proliferar e tomar o lugar das outras, destruindo o equilíbrio do ecossistema e sua biodiversidade. Nos ambientes aquáticos, o efeito é imediato: uma explosão de crescimento de algas libera toxinas e consome quase todo o oxigênio na água.
 Vários estudos feitos no Estado de São Paulo, que é o local da maior produção de cana-de-açúcar do mundo, já observaram como as águas arrastam nitrogênio fertilizante dos canaviais até córregos, rios e represas, onde ele degrada o ambiente aquático e as matas ciliares. Mas ao avaliar a concentração nas represas, os cientistas perceberam que somente o transporte pela água não explica toda a quantidade de nitrogênio encontrada.
Existem suspeitas que esse nitrogênio em excesso venha da atmosfera, na forma de uma poeira microscópica de nitrato de amônio. É como se fosse uma “chuva seca” de fertilizantes que se forma no ar a partir de gases emitidos pela queima da folhagem da cana feita antes da colheita. Mas esse é um conceito que ainda não cristalizou na cabeça dos biólogos.


Em uma série de projetos com apoio da Fapesp e do CNPq, uma equipe monitorou desde 2003 as substâncias químicas no ar dos arredores de Araraquara, que fica no centro da maior região produtora de cana de São Paulo. Uma das análises, concluiu que essa chuva de fertilizante sobre rios, campos e florestas distantes até mais de 300 quilômetros dos canaviais é 12 vezes mais intensa do que a que aconteceria naturalmente. É como se alguém salpicasse fertilizante pela região.

A Queima de palha da cana de todo o Estado de SP emite na atmosfera por ano o equivalente a 2,5 vezes as emissões de nitrogênio da Grande Campinas ou 50% daquelas da Grande São Paulo
 Os dados levantados pelos químicos da Unesp mostram que as concentrações da maioria das substâncias, principalmente aquelas com nitrogênio, fósforo e potássio, aumenta durante a queima da palha da cana, entre maio e novembro. As concentrações dos óxidos de nitrogênio, por exemplo, dobram no período, e os picos nas suas concentrações coincidem com a frequência das queimadas.
Em um estudo publicado em 2008 a equipe calculou que a queima de palha da cana de todo o Estado de São Paulo emite na atmosfera 57 mil toneladas de nitrogênio por ano. Isso equivale às emissões de nitrogênio de uma metrópole, cerca de duas vezes e meia as emissões anuais da Grande Campinas ou metade daquelas da Grande São Paulo.
 Nas cidades, a principal fonte de nitrogênio no ar é a queima de combustíveis. Os óxidos de nitrogênio gerados participam de reações químicas na atmosfera produzindo nitrato de amônio, ácido nítrico o que contribui com a chuva ácida, e ozônio, que na baixa atmosfera faz mal à saúde animal e vegetal.
 A imensa maioria do nitrogênio no ar (99%) está na forma do inofensivo gás nitrogênio. Bactérias que vivem no solo e na água transformam naturalmente esse gás em óxidos de nitrogênio, amônia e amônio, todos compostos que reagem com seres vivos, também conhecidos como nitrogênio ativo.
 Ao mesmo tempo, outro tipo de bactéria, também no solo e na água, vive de fazer a transformação oposta, devolvendo gás nitrogênio para a atmosfera. Os dois comportamentos fechavam um ciclo que permaneceu em equilíbrio até o começo do século 20. Desde então os fertilizantes e os motores a combustão mais que dobraram a produção global anual de nitrogênio ativo.
 É um dos três problemas ambientais mais graves do mundo, junto com a acelerada perda da biodiversidade e a alta concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Para chamar atenção do público, o químico ambiental dos EUA, coordenou a criação de uma calculadora de “pegada de nitrogênio”, nos moldes da pegada de carbono, por enquanto apenas para os EUA e a Holanda.


Alunos:
Janielli 20
Marlony 32
Matheus 33
Thais 39
Welida 41
Mariana 43

3° N





Um comentário:

  1. É, sem dúvida, pertinente essa preocupação com a imagem do etanol brasileiro. Dependemos é claro de avanços sociais e do controle do governo sobre a produção.

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